Países ricos precisam ajudar Brasil a não explorar mais petróleo, diz Paul Polman

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Ex-CEO da Unilever participou de evento em São Paulo e comentou interesse do governo brasileiro de perfurar Foz do Amazonas

Folha de S. Paulo  

 

O Brasil não precisa explorar novos poços de petróleo, inclusive na Foz do Amazonas, defendeu nesta terça-feira (2) o ex-CEO da Unilever Paul Polman, 67, que hoje atua como ativista climático.

Para o ex-executivo, o Brasil já possui um dos níveis mais altos de geração de energia renovável e tem uma rede elétrica interligada, o que impulsiona o país na corrida pela transição energética.

Paulman conversou com a Folha após participar de evento em São Paulo sobre meio ambiente organizado pela AYA Earth Partners e pela Pacto Global, iniciativa da ONU que reúne empresas de todo o mundo.

O holandês argumentou que o Brasil já possui um dos níveis mais altos de geração de energia renovável e tem uma rede elétrica interligada, o que impulsiona o país na corrida pela transição energética. “Já temos combustíveis fósseis suficientes no mundo e já descobrimos o suficiente para ultrapassar facilmente os 1,5º C”, disse, em referência ao limite imposto por cientistas para o aquecimento global.

Segundo ele, a captura e armazenamento de carbono (tecnologia pesquisada pelas petrolíferas para reduzir as emissões da produção de petróleo) não são suficientes para impedir a ultrapassagem do limite de temperatura estipulado pelos cientistas. “Explorar mais petróleo e dizer que ‘somos os únicos que podem fazer isso com uma pegada de carbono menor’ é o que todo país diz”, acrescentou.

Quem defende a extração de petróleo na Foz do Amazonas argumenta que o mundo ainda precisará de petróleo nas próximas décadas. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, por exemplo, disse em entrevista ao americano New York Times que a transição energética do país precisa ser “sábia e lenta” e que a estatal brasileira irá “até a última gota de petróleo”.

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Para Polman, os países ricos precisam apoiar os emergentes a abdicar da extração de petróleo. “É a mesma situação nos mercados emergentes da África, onde há muitos países com reservas inexploradas que dizem que agora é a vez deles. Mas é melhor nos unirmos e ajudarmos essas economias a se transformarem ou até mesmo se tornarem líderes do que seguir o caminho convencional que sabemos que não funciona. Portanto, também requer solidariedade global”, diz.

Ele cita, por exemplo, o anúncio do presidente da França, Emmanuel Macron, de que os franceses pretendem investir 1 bilhão de euros (cerca de R$ 5,3 bilhões) em recursos públicos e privados ligados à bioeconomia na Amazônia nos próximos quatro anos.

“O plano de transição ecológica do Brasil é de US$ 150 bilhões por ano. É um investimento muito bom, mas parte disso precisa vir de investimento estrangeiro direto, não pode vir apenas dos mercados brasileiros”, afirma.

Polman foi umas das figuras que auxiliaram o governo federal na formulação do plano, hoje liderado pelo Ministério da Fazenda.

À Folha, Polman também comentou as críticas de empresários brasileiros ao protecionismo europeu, com empresas evitando a compra de etanol de primeira geração por suposta competição com a produção de alimentos e a União Europeia prometendo evitar a entrada de produtos oriundos de desmatamento (ainda que legal) no continente.

“Isso precisa ser discutido no nível político com um certo nível de bom senso”, diz ele, defendendo a participação da Organização Mundial do Comércio em discussões em que “fatores ecológicos e mudanças climáticas” se tornam “parte das questões comerciais bilaterais ou multilaterais”.

Polman ainda cobrou celeridade na aprovação de um mercado de carbono em todo o mundo ?no Brasil, o tema está na parado no Senado, após aprovação na Câmara dos Deputados no final do ano passado.

“A nível global, há muita discussão agora sobre como fazer esses mercados funcionarem, e o Brasil precisa fazer parte disso”, diz.

Ainda que seja improvável a inserção do agronegócio no mercado regulado de carbono hoje em discussão no Congresso, Polman defende também que as empresas do setor aceitem fazer parte de políticas ambientais.

“Se você não fizer isso e continuar na trajetória habitual, você encolherá seus mercados. Haverá indústrias que estarão mais em apuros. Você já vê isso, por exemplo, com alguns dos produtores de carne, cada vez mais cobrados por padrões mais elevados e sendo exigidos a apresentarem um nível mais alto de transparência. Acho que é sempre melhor tomar a iniciativa do que ser forçado a mudar.”

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