Política de preço e ameaça da falta de diesel no Brasil

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É preciso retomar investimentos em refino e analisar a oportunidade de construção de pelo menos mais uma refinaria no país, escreve Magda Chambriard

Poder 360

Em 26 de maio, a Petrobras alertou o país sobre a possibilidade de desabastecimento de diesel, impactado pela guerra na Ucrânia e a retomada do crescimento de alguns países, como a China. A empresa previa que poderia faltar diesel nas bombas no Brasil no 3º trimestre do ano, em função do aumento de demanda, motivada por pico de exportação de grãos, e desarranjos dos sistemas logísticos do setor de petróleo, decorrentes da guerra.

Há tempos especialistas e entidades de classe apontam o equívoco das baixas taxas de utilização das refinarias brasileiras e da falta de investimentos em refino. Porém, a opção foi por desinvestimentos e aumento da capacidade ociosa nas refinarias. Acreditaram que o ‘mercado’ proveria as necessidades do país, não cabendo à Petrobras esse papel.

O momento atual reafirma a importância da segurança energética das nações. Um país com o 8º maior mercado de derivados do mundo e transporte pesado por rodovias certamente sofreria impactos incalculáveis com uma possível falta de diesel.

O Brasil exportador de petróleo desistiu da busca pela autossuficiência em derivados. As importações de diesel cresceram e o continuado aumento de preços do petróleo cru, que deveria reforçar as finanças de um país que já exporta mais de um milhão de barris por dia, se transformou em um retro alimentador da inflação. A guerra na Ucrânia inseriu mais um complicador, a escassez de derivados.

O alerta da Petrobras sobre risco de desabastecimento de diesel visa a principalmente assegurar a manutenção do PPI (Preço de Paridade de Importação) dos derivados, e ocorre em meio a preços crescentes, inflação em 2 dígitos, e estimativas, como a da Goldman Sachs, por exemplo, de o barril de petróleo a US$ 135, nos próximos 12 meses.

Não é aceitável o argumento de que não seria possível abastecer o país sem remunerar o combustível vendido no Brasil pelo preço estabelecido no mercado internacional, além dos custos para colocar os produtos aqui dentro. O argumento é frágil, principalmente porque a maior parte do combustível consumido é produzida internamente, a custo um dos mais baixos do mundo, graças à alta produtividade do pré-sal.

O Brasil produz a maior parte dos derivados que consome (75% no caso do diesel). Mas onera, com importações, o preço de todos os derivados, em momento difícil da economia brasileira.

Os articuladores do PPI se esquecem que decisões lastreadas no curto prazo nos levaram à dependência exacerbada de importações de diesel, cujo preço em dólar já aumentou 53% em 2022 e permanece em tendência de alta.

A escassez de refino no Brasil e no mundo, associada ao novo cenário geopolítico, leva à necessidade de constante monitoramento da capacidade de atendimento do mercado. É preciso retomar investimentos em refino e analisar a oportunidade de construção de pelo menos mais uma refinaria, além de novos investimentos no atual parque.

Não é razoável que um país, com o mercado consumidor do tamanho do Brasil, delegue a responsabilidade de seu abastecimento ao indeterminado ‘mercado’, e mantenha nível elevado de dependência. É urgente o debate sobre segurança energética, estoques de combustíveis e custos de oportunidade de um setor essencial. E, principalmente, sobre o papel da Petrobras e da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) na garantia do abastecimento nacional de combustíveis.

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