Fonte: Valor Econômico
O Brasil e países do bloco árabe pisam no acelerador para explorar novas fontes de energia limpa, como eólica, solar e o etanol. “Estamos em um momento de grande preocupação no planeta, com mudanças climáticas frequentes, e o apelo aos recursos renováveis é cada vez mais importante no mundo”, analisa Suani Coelho, professora da área de energia e meio ambiente da Universidade de São Paulo (USP), em palestra no Fórum Econômico Brasil-Países Árabes. Empresários da Argélia e dos Emirados Árabes Unidos estão procurando parceiros e fornecedores de tecnologias limpas.
“Vivemos de energias renováveis e queremos que as empresas brasileiras participem desse movimento”, diz Saeed Beljafla, gerente sênior de relações governamentais da Agência de Água e Energia de Dubai (DEWA, na sigla em inglês). O Emirado incentiva o uso de carros elétricos e tem mais de cem estações de recarga, com a meta de chegar a mais de 200 unidades, até 2020. “Vamos construir cidades sustentáveis para as próximas gerações.”
Um dos principais projetos na área é o parque solar Mohammed bin Rashid Al Maktoum (MBR), inaugurado em 2012 e considerado um dos maiores do mundo. Com área de 214 quilômetros quadrados, pretende acumular 1 GW de capacidade solar até 2020 e oferecer eletricidade para mais de 130 mil pessoas. Depois, até 2030, o complexo ganhará 5 GW de capacidade, incluindo 1 GW de força heliotérmica (uso e acúmulo do calor proveniente dos raios solares). A meta é que Dubai alcance, até 2030, um patamar de 25% de energia proveniente de fontes renováveis, chegando a 75% em 2050.
Para Ahmed El Antri Tibaoui, CEO da associação de empresas World Trade Center – Argélia, os Países Árabes, conhecidos pela expertise em petróleo e gás, estão mudando de rota no campo energético por conta da crise no preço dos combustíveis e da pressão mundial pela exploração de energias limpas. “Além da Argélia, Catar, Tunísia, Arábia Saudita e Abu Dhabi estão investindo mais nesse nicho”, diz.
Vinte e cinco por cento da energia consumida em Abu Dhabi já vêm de fontes renováveis e o Emirado tem exportado novas tecnologias para o mundo. No ano passado, a Escócia inaugurou um parque eólico flutuante, a 24 quilômetros da costa, avaliado em R$ 875 milhões. Foi desenvolvido pela Masdar, empresa de energias renováveis de Abu Dhabi, e a norueguesa Statoil.
Segundo o especialista, a Argélia, que tem economia dependente do gás e do fosfato, tem como meta garantir 30 GW de energias limpas até 2030. “O Brasil pode contribuir com isso, inclusive com investimentos na retomada da Rota da Seda”, diz. A iniciativa, que também inclui obras em nações da Liga Árabe, como o Djibuti, prevê US$ 100 bilhões para bancos de desenvolvimento da China financiarem obras de infraestrutura e projetos energéticos em mais de 60 países.
Para facilitar o intercâmbio de recursos e tecnologias entre os países, Tibaoui sugere a criação de um banco árabe-brasileiro ou fundos de investimento com metas definidas. “Não adianta apenas investir em quilômetros de painéis solares se não há aportes no livre-comércio”, diz. “O Brasil pode desempenhar um papel importante nesse quadro, por conta da tradição no setor de biocombustíveis.”
Plínio Nastari, presidente da consultoria agrícola brasileira Datagro e integrante do Conselho Nacional de Políticas Energéticas (CNPE), lembra que o Brasil quer produzir mais bioenergia. “Mais de 44% das nossas fontes energéticas são renováveis e a maior parte, ou 17,5% desse total, são obtidos da cana-de-açúcar”, diz o especialista. Ele defende que iniciativas nacionais, como o RenovaBio, podem virar um exemplo para o mundo. O programa do governo federal, lançado em dezembro de 2016, tem como objetivo expandir a produção de biocombustíveis.
“Essa iniciativa não só atende objetivos ligados ao clima, mas também gera empregos, que é o que vai faltar no planeta, nos próximos anos”, diz. Segundo ele, a fixação de trabalhadores no campo, por conta de atividades ligadas à produção de biocombustíveis, entra nessa fatura. “O Brasil já evitou US$ 416 bilhões em importações de gasolina por conta da produção do etanol.”
Nesta semana, o Ministério de Minas e Energia anunciou que quer atrair investidores estrangeiros para os certificados de biocombustíveis (Cbio), previstos no RenovaBio. Os selos são instrumentos financeiros usados para remunerar os produtores com base na eficiência ambiental dos recursos de origem biológica. A expectativa é que o governo apresente uma regulamentação até 2019, para que distribuidores de combustíveis possam adquirir certificados.