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Fonte: O Globo

Tasso Azevedo
A história recente do etanol do Brasil é um caso único de sucesso de implementação em larga escala de uma alternativa ao uso de combustíveis fósseis. A combinação da tecnologia de produção de etanol em grandes quantidades associada ao desenvolvimento dos motores flex (ou bicombustíveis) foi chave para este sucesso. Hoje, quase 75% da frota circulante de veículos leves no Brasil são flex; portanto, podem rodar com qualquer mistura de gasolina e etanol.
A substituição da gasolina pelo etanol traz vários benefícios, entre eles a redução das emissões de poluentes locais de carbono. Ao crescer, a cana capta carbono da atmosfera através da fotossíntese e, ao queimar o combustível, o carbono que havia sido capturado volta para atmosfera. Com o fim progressivo da prática da queima da cana antes da colheita, há ainda um acumulo de carbono no solo. Assim, o sistema pode até ser positivo, capturando mais carbono do que emite.
Mas esta conta só fecha se os plantios de cana não envolverem novos desmatamentos (que emitem milhões de toneladas de carbono). Estudos conduzidos por instituições públicas e privadas, nos últimos anos, apontam que o crescimento dos novos plantios de cana desde o ano 2000 se deu sobre áreas já desmatadas há muito tempo, especialmente de pastos. Em São Paulo, o maior estado produtor, menos de 1% dos novos plantios está associado a áreas com desmatamento pós-2000. O veto vigente à expansão da cana na Amazônia é defendido pela própria indústria sucroalcooleira e por ambientalistas. Isto, certamente, tem ajudado a manter tal condição.
Apesar de quase 75% da frota de veículos leves serem flex, a escolha de abastecer com etanol representa menos de 25% do consumo total de combustível destes veículos. Ou seja, o potencial de redução de emissões de gases de efeito estufa pelo programa de etanol no Brasil ainda é pouco explorado. Se todos os veículos flex se abastecessem apenas com etanol, haveria uma redução adicional das emissões em quase 35 milhões de toneladas de CO2 e por ano — o que equivale às emissões somadas de ônibus e aeronaves do país em 2016.
O futuro do transporte está na eletrificação. O motor a combustão está com os dias contados. No Brasil, isso faz ainda mais sentido, considerando que 80% de nossa matriz elétrica são renováveis. Mas a troca de toda a frota circulante demorará décadas, e o Brasil tem uma condição única para fazer esta transição: reduzir as emissões da frota já existente a partir de políticas e estímulos ao uso dos biocombustíveis.
Ao mesmo tempo, será necessário a indústria sucroalcooleira do Brasil se adaptar para se transformar numa indústria bioquímica e bioenergética, substituindo a petroquímica e a geração termoelétrica com combustíveis fósseis. Isso é a cara da nova economia.
Tasso Azevedo é engenheiro florestal

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