Fonte: Exame.com
Os níveis atuais de investimento em combustíveis fósseis caminham na contramão das metas de redução de emissões do Acordo do Clima de Paris. Um estudo da consultoria Carbon Tracker estima que a indústria de petróleo, gás e carvão está colocando um total de US$ 1,6 trilhão de investimentos em risco, se o mundo agir em conjunto no combate às mudanças climáticas.
O estudo avalia o volume de investimentos em combustíveis fósseis necessários para os próximo anos, sob três cenários diferentes: mantido o business as usual (sem levar em conta a descarbonização da economia); um cenário em que se persegue a meta de limitar o aquecimento a 2 graus Celsius (ºC) até o final do século, e um mais agressivo limitado a um aumento de 1,75 ºC.
No cenário business as usual, o mundo precisará de US$ 4,8 trilhões em investimentos em petróleo, gás e carvão entre 2018 e 2025, mas muito menos se os governos intensificarem as iniciativas políticas para combater as emissões de gases efeito estufa.
Se o mundo perseguir a meta de 2ºC, a necessidade de investimento cairia para US$4 trilhões até 2025. Em um cenário mais agressivo, em que o mundo limita o aquecimento a 1,75ºC, o investimento em combustíveis fósseis não deveria passar de US$ 3,3 trilhões.
Na ponta do lápis, as empresas de combustíveis fósseis correm o risco de desperdiçar US$ 1,6 trilhão em gastos até 2025, se não basearem seus negócios nas metas climáticas internacionais, alerta o Carbon Tracker.
“Atualmente, as políticas dos governos ficam longe do objetivo final comprometido em Paris, mas devemos esperar um aumento dos esforços internacionais. Empresas que interpretam mal os sinais e investem demais em projetos marginais de petróleo, gás e carvão com base em um falso senso de segurança poderiam destruir o valor do acionista em bilhões de dólares”, disse em comunicado o autor do relatório, Andrew Grant, analista sênior da Carbon Tracker.
O estudo estimou as perdas nos setores de petróleo, gás e carvão. Na indústria de petróleo, US$ 1,3 trilhão de gastos futuros estão em risco. Os EUA estão mais expostos, com US$ 545 bilhões em risco, seguido do Canadá (US$ 110 bilhões), China (US$ 107 bilhões), Rússia (US$ 85 bilhões) e Brasil (US$ 70 bilhões).
Já no setor de gás, cerca de US$ 228 bilhões de investimentos futuros estão em risco, segundo a Carbon Tracker. A Rússia está mais exposta, com US$ 57 bilhões em risco, seguida pelos EUA (US$ 32 bilhões), Qatar (US$ 14 bilhões) e Austrália, Canadá e Noruega (todos com US$ 13 bilhões).
Outros US$ 62 bilhões estão em risco na indústria do carvão, incluindo US$ 41 bilhões na China e US$ 10 bilhões nos EUA.
O estudo também estima que os investidores privados correm maior risco do que as empresas estatais. Eles estão expostos a 88% dos gastos com projetos de petróleo e gás desnecessários.
Independentemente das metas climáticas, a consultoria destaca que o rápido crescimento de tecnologias limpas está prejudicando os cenários de investimento em combustíveis fósseis.
Segundo a Carbon Tracker, a queda dos custos de veículos elétricos e da tecnologia solar poderia deter a demanda global de petróleo e carvão a partir de 2020.