Fonte: Valor Econômico
Após dois reveses no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o grupo Ultra deve concentrar os investimentos na base de ativos existentes e em crescimento orgânico. De imediato, na avaliação de analistas, a nova negativa do órgão antitruste, desta vez à compra da Liquigás pela Ultragaz, não altera projeções para os resultados deste ano, mas põe por terra expectativas de crescimento mais acelerado, ao menos no curto prazo.
O comando do grupo já havia sinalizado que a estratégia é gerar mais valor a partir dos cinco negócios atuais e programou, para 2018, investimentos de R$ 2,7 bilhões, o mais alto de sua história. Há potencial de expansão em todas essas áreas, disse em dezembro o presidente Frederico Curado. Mas a velocidade de crescimento, ponderam analistas, é menor hoje.
Na Ipiranga, de distribuição de combustíveis, e na rede de varejo farmacêutico Extrafarma, a meta é acelerar a abertura de novas unidades. Na Oxiteno, braço químico do grupo, o foco está no início de operação da nova fábrica de tensoativos em Pasadena, nos Estados Unidos. A Ultracargo já está investindo em expansão de terminais e a Ultragaz poderia crescer além das fronteiras brasileiras.
Após o veto do Cade, o Santander cortou a recomendação para as ações de Ultrapar de compra para neutra (manutenção) e reduziu o preço-alvo ao fim de 2018 de R$ 84 para R$ 83 por ON – no fechamento da B3 ontem, a ação valia R$ 74,20 com queda de 1,51%. Em relatório, os analistas Christian Audi e Gustavo Allevato, afirmaram que, com o fracasso na tentativa de compra da Liquigás e da rede Alesat, no ano passado, não há um fator de crescimento acelerado de curto prazo para os resultados.
“Esperamos que a Ultrapar se concentre agora no crescimento orgânico dos ativos existentes”, escreveram. A expansão mais moderada e o fato de as ações estarem negociando com prêmio em relação à média histórica – de 12% na relação entre valor de mercado e Ebitda e de 7% se considero o múltiplo preço/lucro – explicam o novo preço-alvo.
Para 2018, os analistas do Santander esperam resultados operacionais melhores do que os vistos em 2017. Mas, ainda assim, o crescimento do Ebitda consolidado deve ser de 3% (para R$ 4,2 bilhões) e o do lucro, de 7% (a R$ 1,68 bilhão), já incorporando o pagamento à Petrobras de multa de R$ 286 milhões pelo fracasso na aquisição da Liquigás. Antes de 2017, o grupo vinha exibindo dois dígitos de crescimento, dizem Audi e Allevato.
O UBS manteve recomendação de compra e preço-alvo de R$ 86 para as ações, mas reduziu a projeção para o lucro neste ano em cerca de 9%. A revisão reflete a incorporação da multa em seus cálculos. O banco estimava para a holding lucro líquido de R$ 2,07 bilhões e agora trabalha com R$ 1,88 bilhão, o que embute alta de 20% na comparação com 2017.
Em relatório, os analistas Luiz Carvalho e Julia Ozenda comentaram que os últimos 20 meses foram “difíceis” para a Ultrapar, com a rejeição do Cade tanto à aquisição da Liquigás quanto da Alesat, a retomada mais tardia do que se esperado nas vendas de combustíveis, o fato de a rede Ipiranga não ter recuperado participação de mercado e o impacto negativo da volatilidade dos preços dos combustíveis nas margens no primeiro semestre de 2017, que tornou a recuperação mais difícil no segundo semestre.
Esses eventos, avaliam os analistas, levaram alguns investidores a adotarem postura mais conservadora em relação à Ultrapar, mas as dificuldades parecem estar ficando para trás.
O UBS permanece positivo em relação ao grupo e espera recuperação dos resultados em 2018, por causa dos esforços em embandeirar mais de 1,3 mil postos de combustível entre 2016 e 2018, da mudança no modelo de contrato de fornecimento com a Petrobras em maio e da esperada perda de competitividade dos postos bandeira branca.